Para muitos pode ser difícil lidar com uma realocação – quando uma franquia muda para outra cidade -, deixando estádio, fãs e um legado para trás, marcando a história de um time. Mas, por outro lado, para uma equipe alcançar ambições ainda maiores, a mudança de ares pode ser necessária. Seja ela para fortalecer a marca e construir uma identidade com mais fins lucrativos, ou até mesmo captar uma nova base de torcedores, é uma realidade não rara na NFL. Para ilustrar estes cenários no futebol americano temos Chargers, Raiders e Rams.

Quanto Vale o Show

O ponto de partida para a mudança é a elaboração de uma proposta, que será submetida e deverá ser votada pelos donos das demais franquias e, somente desta forma, o time poderá seguir em frente com a realocação. Na liga esportiva que mais fatura no mundo, os proprietários dos times são mais que torcedores apaixonados, são investidores que tem como principal objetivo o retorno financeiro, transformando assim o football em negócios bastante lucrativos.

Seguindo essa linha, temos os Chargers, que saíram de San Diego em 2017, depois de o proprietário Dean Spanos se aproveitar do insucesso na construção de um novo estádio – que não recebeu o aval da prefeitura na liberação de verba – para pegar seu raio, sua bola e levar o time para Los Angeles. Assim, modificando o símbolo e os uniformes, impactando no (re)lançamento dos Los Angeles Chargers, na “Cidade dos Anjos”, lugar que possui forte apelo financeiro e que carrega uma tradição esportiva, contando com franquias em diferentes modalidades como: Lakers (basquete), Clippers (basquete), Kings (hóquei), Dodgers (beisebol), entre outras.

Com o Rams não foi muito diferente: quando optaram por sair de St. Louis, em 2016, Stan Kroenke, proprietário da franquia, enxergou como a mudança daria valor de mercado para sua equipe, pois, com exceção à Nova Iorque, não existe lugar mais rentável que LA. O resultado da mudança pode ser evidenciado pelo levantamento realizado pela Forbes que, em 2015, avaliou o St. Louis Rams como a equipe menos valiosa da NFL. Quatro anos depois, ela pulou para o 4º lugar, atrás apenas do Dallas Cowboys, do New England Patriots e do New York Giants, respectivamente. Vale ressaltar que, se a temporada 2020/21 ocorrer normalmente, o time ainda poderá estrear em seu mais novo estádio, o Sofi Stadium, que será administrado em parceria com o Chargers, aumentando ainda mais o valor da receita da equipe, com as partidas, patrocínios, naming rights e afins.

Histórico de realocações

Desde a fusão entre AFL e NFL, vimos várias franquias mudarem, adquirirem novas identidades e frustrar novos e velhos torcedores, como vemos abaixo:
1982 – Oakland Raiders vai para Los Angeles;
1984 – Baltimore Colts vai para Indianapolis;
1994 – St. Louis Cardinals vai para Phoenix, trocando o nome para Arizona Cardinals, no mesmo ano;
1995 – Los Angeles Rams vai para St. Louis;
1995 – Volta o cão arrependido, Raiders retorna a Oakland;
1997 – Houston Oilers foram, temporariamente, para Memphis, como Tennessee Oilers e, em definitivo, para Nashville – em 1998 – mudando de nome para Tennessee Titans no ano seguinte;
2016 – St. Louis Rams retorna para Los Angeles;
2017 – San Diego Chargers volta para Los Angeles;
2020 – Oakland Raiders segue para Las Vegas.

Carta na Manga

Apesar de possuir uma torcida apaixonada em Oakland, a estrutura do estádio dos Raiders – o Coliseum – estava bem precária e não recebia mais a carga máxima. Dessa forma, o proprietário Mark Davis foi tentado por Las Vegas, que entrou com “all in” como lar para a sua mais nova franquia. Unindo o útil ao agradável – a “Cidade do Pecado – e buscando se desvencilhar deste rótulo, optou por investir em esportes. Para isso, baseou-se no sucesso recente do Vegas Golden Knights, pela NHL, que conquistou o título da divisão e da conferência no ano de fundação (2017-18) e pretende repetir o sucesso com os Raiders. Eles já chegam com seu novo estádio pronto para recebê-los, o Allegiant Stadium, que tem a capacidade para até 72 mil pessoas e será a casa da franquia, sendo fator importante para enfrentar seus adversários, porque, em Vegas, a “casa” sempre ganha.

Desenho do estádio da franquia Las Vegas Raiders, o Allegiant Stadium.
Desenho do estádio da franquia Las Vegas Raiders, o Allegiant Stadium
Fonte: Silver and Black Pride

Conclusão

Diante de toda fúria de cidade e torcida “abandonada”, existe vida melhor para as equipes. Por mais difícil que seja ver sua paixão ir para longe, é preciso saber deixá-la ir, para o bem dos dois. Cabe saber avaliar até onde você vai amar o seu time e apoiá-lo, indiferente da distância. No fim, futebol americano é um grande negócio e os times e seus torcedores precisam um do outro para tornar o espetáculo ainda mais grandioso.

Por que os Chargers não vão para frente? Confira aqui nessa análise.

Ange Rangel
Carioca de nome estranho, escolhido pelo Botafogo e amaldiçoado pelos Chargers. Jornalista de formação, porém trabalhando como tripulante de cruzeiros. Apesar de um histórico infindável na prática de diversos esportes (até Cabo de Guerra), hoje só curte a aposentadoria de atleta nada profissional jogando um video game e bebendo uma cerveja.

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