Nas últimas semanas, a polêmica do nome do Washington Redskins voltou a ser pauta. Dessa vez, mais forte do que nunca. Daniel Snyder, proprietário da franquia, anunciou na última sexta-feira (03) que estariam passando por um processo de reavaliação nominal, em busca de uma nova identidade.

A história da palavra

Para entender toda problemática em volta do nome de Washington, é preciso retornar ao século XIX. Após o Tratado de Paris – onde os ingleses reconheceram a independência das Treze Colônias na América – iniciou-se a famosa “Marcha para Oeste”. Ela consistia em uma ocupação em massa dos territórios a Oeste das Treze Colônias, habitado por centenas de povos indígenas. Em meio aos conflitos sangrentos originados desse contato, surgiram os primeiros registros da palavra “redskin”.

Em 1863, o The Daily Republican, um jornal de Minnessota, escreveu um anúncio onde dizia: “As recompensas do Estado para índios mortos aumentou para 200 dólares para cada pele vermelha mandada ao purgatório”. Alguns anos depois, no velho oeste Hollywoodiano, à medida que o genocídio era romantizado, o termo “redskin” foi ganhando força e se popularizando junto com a imagem do indígena estereotipado como animal selvagem.

Conforme foi ganhando popularidade, o termo começou a fazer parte de diversas equipes esportivas por todos os 50 estados americanos – de ensino médio até o nível profissional. Em 1968, no meio da onda dos direitos civis, o Congresso Nacional dos Índios Americanos fez a primeira reclamação formal referente ao nome. Conforme as críticas foram ganhando força, inúmeros times fizeram a troca do nome: a University of Utah Redskins, que virou Utah Utes em 1972; a Miami University Redskins, que virou em Miami Redhawks em 1997; e a Southern Nazarene University Redskins, que virou a Crimson Storm em 1998. Ao todo, 28 equipes esportivas de ensino médio em 18 estados retiraram o nome Redskins de seu programa.

E na NFL?

Na NFL, os Chiefs (chefes indígenas) já chegaram a usar a imagem indígena de maneira errada, como mascotes e o uso de artefatos sagrados. Porém, com o tempo, abandonaram essa ideia. O mesmo pode-se dizer sobre o Golden State Warriors na NBA, que atualmente só tem o nome do time ligado aos nativos – nenhuma flecha ou cocar que faça referência aos mesmos. Líderes indígenas e militantes da causa explicam que, ao usar um mascote ou qualquer desenho caricato, representa uma visão estereotipada e preconceituosa dos nativos americanos, ignorando as diferenças entre as tribos e os generalizando.

Na língua inglesa, apesar de algumas pessoas sentirem orgulho da nomenclatura, “redskin” atualmente é usado como xingamento. “Índio/indígena” e “nativo americano” são os nomes mais socialmente aceitos.

Os Estados Unidos estão passando por um momento onde a luta antirracista vem sendo muito discutida, principalmente após o assassinato de George Floyd. Os movimentos, que ganharam forte espaço na mídia nos últimos dias, começaram com “Black Lives Matter” e passaram a abordar o racismo num geral, até chegar à luta dos nativos americanos. Após diversas pressões de líderes indígenas, empresas ligadas ao time, como a Nike e FedEx, se juntaram à cobrança até Dan Snyder ceder e começar as discussões para a mudança do nome. A equipe de Washington soltou uma nota na qual afirmava estar passando por um processo de mudança nominal.

Tweet do insider da NFL Ian Rapoport com a declaração do
Washington Redskins sobre a mudança de nome.

Snyder, em 2014, já chegou a afirmar, na USA Today: “jamais mudaremos o nome. […] simples assim, NUNCA – você pode usar em caixa alta”. Já o atual HC, Ron Rivera, em junho desse ano, afirmou que haviam coisas bem mais importantes a serem discutidas do que a mudança de nome. Na nota emitida pela equipe, os dois personagens mudaram rapidamente seu discurso, apoiando a mudança.

No sábado (04), outra equipe criticada fortemente pelas vozes indígenas seguiu o mesmo caminho de Washington: o Cleveland Indians, da MLB, emitiu uma nota afirmando entrar em um processo de mudança nominal. No caso da equipe de beisebol, a logo é uma figura caricata e estereotipada de um nativo americano, além do uso de mascotes e comercialização de produtos referentes a esse povo.

Conclusão

Portanto, fica claro o porquê do nome ser tão ofensivo para os nativos americanos. Um nome que remete ao contexto onde eram caçados e tratados como animais, no meio de um genocídio, está longe de ser uma homenagem. Foi preciso o bolso pesar para Snyder deixar o orgulho de lado e dar ouvidos a quem lhe alerta desde os anos 90. Aos poucos, a NFL vai deixando o conservadorismo de lado e abrindo os olhos para o que acontece nos Estados Unidos e no mundo – são passos pequenos, porém passos adiante.

Quão forte são os adversários do seu time esse ano? Confira aqui a análise do No Flags sobre isso.

Rodrigo Souza
Um dos poucos torcedores dos chargers no mundo. Viúva de Philip Rivers e psicólogo em formação. Eventualmente curo minha abstinência de futebol americano com basquete

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